"Changer
   No francês: mudar.
   Por que resistimos tanto às mudanças se são elas que tiram o ser humano da inércia de si mesmo?
   Mudar vai desde uma troca do canal de TV até mudar o sexo, tão em voga ultimamente.
   Mudanças causam revoluções em nós mesmos, nos fazem pensar, primeiramente pelo egoísmo e preguiça com que nos apegamos à rotina até a falsa sensação de controle que NÃO temos sobre nossas vidas.
   No ballet, "changement" é um passo que nos prepara para os saltos, nos fortalece para os impactos.
   No inglês "to change" fica tão mais encorajador se mudamos o "G" pelo "C"... "chance". Uma nova chance vista por outra perspectiva.
   Não é e nunca será fácil enquanto não aprendermos de cor este duro exercício de desapego.
   Uma vez li e aprendi a repetir que o nosso tempo, não é o tempo de Deus. Então, quando as coisas não saem a nosso contento, nos rebelamos contra o "acaso", damos birra na frente deste Deus, tal criança mal criada... Feio,né??... mas humano e real.
   Então, ele pacientemente nos põe no colo e sussurra de mansinho aos nossos ouvidos: "Olha que sol mais lindo está lá fora! Mas suas lágrimas estão te impedindo de admirá-lo".
   Mudar dá menos trabalho quando confiamos nele, quando temos a plena certeza de que fizemos o nosso melhor frente a todas as possibilidades e aceitamos o desafio como oportunidade agradecendo viver o momento presente com as dádivas colhidas do amor e da esperança ofertadas pelos nossos corações confiantes."

     Lembro-me claramente do dia em que escrevi este post numa de minhas redes sociais. Estava deixando uma situação e um momento de vida o qual eu amava e indo para um outro momento de incertezas e dúvidas. A  relevância deste pensamento pode ser atribuída a praticamente quase tudo em nossas vidas. Afinal, tudo muda.




   Cada braço deste enigmático sistema cadencial, corresponde às inúmeras possibilidades de vivências e chances que temos em vida.


   Pensamentos são o que são, apesar de canalizar energia motivadora construtiva ou destrutiva, mas escolhas e ações determinam a composição do caminho a se seguir.


   As escolhas do hoje são a realidade do amanhã.


     Mudanças ocorrem independentemente de podermos acompanhar seu processo. Elas são o resultado final de algo alterado e ainda assim nunca adquirirão o caráter de algo definitivo, seguindo o viés espiral da evolução.


  Isaac Newton (1643- 1727) postulou como uma de suas leis, o princípio da Inércia, ou seja, a tendência de um corpo se manter em seu estado atual (repouso ou movimento uniforme) desde que NÃO sofra a ação de alguma força.

   Assim, tudo aquilo que sujeitou-se a alguma mudança sofreu ou sofre a ação de uma vontade externa ou maior. Impulsos emocionais, desafios pessoais, doenças, necessidades de sobrevivência são alguns dos fatores intelectuais que confrontamos em algum momento de nossa existência. Mas não apenas eles criam as mudanças que praticamos. Há milhões de anos nada era como hoje em nosso planeta. Nada, apenas a inconstância dos processos metamórficos.

       Nosso planeta é a testemunha ocular dessa instabilidade controlada. Várias conformações geomórficas dos continentes foram determinadas a partir do tempo que a Terra terminou sua formação: são os chamados Supercontinentes.

 

    Ûr foi o primeiro supercontinente após a formação de nosso planeta. Data de 3 bilhões de anos. O passar dos anos permitiu a criação de mais duas placas continentais "Nena" e "Atlântica" que gradativamente seu uniram e levaram milhões de anos para que juntamente a Ûr, formasse a Rodínia. Estudos atuais descrevem um supercontinente ainda mais antigo que Ûr, de nome Vaalbara, que descreve-se datar de 4 bilhões de anos, mas ainda o caracterizam como um supercontinente hipotético.

   A ação vulcânica sempre aconteceu em áreas oceânicas, pois a Terra era repleta de água e a parte sólida deste processo formava-se gradativamente com o resfriamento do material fruto do vulcanismo.




     A formação de Rodínia compreende o último bilhão de anos da Terra (1,1 bilhão a 750 milhões de anos). Deteve por muito tempo grande parte da porção continental do planeta e a concentração de oxigênio na atmosfera ainda era muito baixa, o que dificultava o desenvolvimento da vida.

    A Terra neste período também sofrera com as glaciações severas, onde a camada oceânica  revestia-se de uma capa de gelo de, em média, até um quilômetro em sua superfície e um deserto escasso de vegetações também se fazia.

 
   Quando por volta de 700 milhões de anos atrás, Rodínia se fragmentou em oito continentes e devido à potente movimentação das massas continentais ficaram à deriva no oceano global chamado "Mirovoi", que circundava o supercontinente.

Após a fragmentação de Rodínia, o efeito destas movimentações se fez mais claro o que permitiu a hipótese da formação de um outro supercontinente por volta de 600 milhões de anos, de nome Panótia. As massas continentais que compunham este supercontinente concentravam todas no pólo Sul a as taxas de oxigênio na atmosfera ainda eram muito baixas.

   O deslocamento destas massas continentais ocorre de forma cíclica e, há 300 milhões de anos, o reagrupamento de continentes dispersos no vasto mar planetário forma aquele que foi o marco da diversificação da vida vegetal e animal, assim como o clima e a biota de todo o Globo: A Pangeia (Pangea). 
   Por 100 milhões de anos este foi o supercontinente que abrigou a vida em sua escala primitiva e, como todo processo dinâmico, sofreu com as leis naturais que são implacáveis e imparciais.


 As alterações na Pangeia iniciaram com a abertura do mar de Tétis e do Pacífico originando dois grandes continentes: Laurásia e Gondwana.
    A Laurásia, a norte, deu origem ao Atlântico norte e ao hemisfério norte, há 200 milhões de anos. E Gondwana fraturou-se em 4 partes, originando a África, América do Sul, Índia e Austrália/Antártica.

   O ciclo deste grande continente finda-se com a separação real do continente formado ao norte, antes Laurásia, originando a América do Norte, Europa, Ásia e Ártico.


    Atualmente, dispomos de tantas informações a respeito do que foi nosso passado, longínquo ou recente( já que o tempo é uma medida relativa) que, por vezes, o desinteresse supera a magnitude de tantas ocorrências fantásticas.

   A ignorância e indiferença a respeito do que somos e o que nos cerca beira a insanidade, já que somos seres individuais vivendo uma experiência em coletividade. O valor que levamos desta vida está nos tesouros abarcados do conhecimento. A ignorância e o pragmatismo fanático também são males que necessitam do olhar metamórfico da razão.

 
   E a razão amplamente vivenciada pelo campo científico nem sempre é idealizada por aqueles que buscam respostas para seus questionamentos.

   Observações de um estudioso meteorologista alemão de nome Alfred Wegener fizeram-no propor em 1915 a ocorrência da Pangeia, pela semelhança do contorno continental da costa dos continentes da África e da América.

   A sociedade científica não apenas recusou a análise de seus dados quando comparou fósseis encontrados em área brasileira e africana, como ridicularizou sua teoria hoje conhecida como "Deriva Continental".




 
    Apesar da polêmica instalada, Wegener insistiu em sua teoria já que notara semelhanças geológicas em áreas diversas. Os montes Apalaches, na América do Norte, se encaixavam às terras altas escocesas. Estratos rochosos encontrados na África do Sul eram idênticos aos encontrados em Santa Catarina, no Brasil. Vestígios de glaciares eram encontrados em regiões de clima tropical.

   Assim, ao propor a existência de um supercontinente único, como a Pangeia, Wegener conseguia unir o resultado de seus estudos numa grande teoria em que, após a separação dos continentes da Laurásia e Gondwana, estes ficaram à deriva no único oceano que circundava a Pangeia, o Pantalaasa.




   Após regressar de uma expedição de salvamento na Groenlândia em 1930, ao levar comida a um grupo de amigos pesquisadores acampados em locais remotos, Wegener morre de hipotermia um dia após completar 50 anos.

   Após sua morte,  pesquisas continuaram sendo realizadas com o intuito de mapear a região oceânica para a utilização de submarinos. Utilizando sonares para a detecção de profundidade, equipes de pesquisa descobriram a existência de montanhas submersas e as denominaram "dorsais meso oceânicas". Métodos de datação das rochas detectaram que as mais antigas estavam próximas aos continentes e as mais jovens distanciando dele. Assim, a teoria de Wegener ganha aceitação científica pública, quase 10 anos após sua morte.



   O reconhecimento público, assim como a valorização pessoal, frequentemente são lentos e parciais. O reflexo daquilo que somos julgados, muitas vezes, abre chagas maiores que a própria insegurança frente ao mundo. Mudar o foco, mudar uma opinião, mudar uma ideologia é sinal de sabedoria, desde que pautados em argumentos consistentes. Insistir em uma ideia errônea apenas pelo simples fato de não se contradizer é comprovação de orgulho nocivo e inflexibilidade no trato com o próximo.

   Wegener insistiu em sua teoria deixando um legado que abriu precedentes para que novas teorias a respeito do movimento continental fosse estudado. Em 1960, Palmer e Mackenzie desenvolveram então a teoria da "Tectônica das placas", aceita universalmente pelos cientistas no mundo todo.


    A movimentação tectônica é a força motriz para toda essa dinâmica e ocorre tanto na parte continental quanto oceânica pois é decorrente da movimentação do magna no interior da Terra em seu constante e cíclico processo de circulação térmica interna . O processo da formação geológica do nosso planeta fez com que o resfriamento exterior da crosta fosse irregular e áreas mais periféricas a estas placas resfriadas são mais tênues que a área central destas que foram chamadas "placas tectônicas".



    A posição destas placas, sobre o magma, e a presença de falhas por toda a estrutura da crosta terrestre facilitam a movimentação destas placas, deslizando ou afastando uma das outras. As maiores placas são as que se localizam os continentes.

   A junção destas placas são pontos de concentração de maior energia e quando esta movimentação se faz, transmite esta energia pelo seu entorno. Essa movimentação energética é a causadora dos tsunamis, dos abalos sísmicos, dos tremores de terra e mar.






 
   Estamos em contínuo processo de mudanças. Somos acometidos por eventos naturais, como sismos, mudanças climáticas, formação e alterações de paisagens todos os dias, em maior ou menos grau.

   Só percebemos o impacto destes horizontes quando estes ocorrem de forma brusca, repentina ou trágica, mas eles sempre estiveram ali, desde muito antes da vida ser possível.




   Eventos tão grandiosos, como os que a Terra atravessou, tiveram o crivo da depuração que a Terra necessitava para lapidar seu caráter rudimentar para evoluir também. São forças maiores que nós e respeitam a única lei verdadeiramente justa e capaz que é a lei divina, representada aqui neste plano como as leis da natureza.

   Foram necessários milhões de anos para se efetivarem os processos de formação continental, a formação de uma atmosfera propícia à vida, a possibilidade da vida em sua mais simples forma até a mais complexa estrutura de coletividade. Grandes e significativas mudanças exigem tempo, esforço e paciência.

   Se o mundo que habitamos necessita deste precioso tempo, como podemos escapar deste justo e probatório período depurativo?



   Há tempo exato para tudo.
   A infância exibe a imaturidade emocional, a fragilidade física e a pureza de sentimentos.À medida que avançamos nos anos, adquirimos mais força física, segurança em atos e decisões e abrimos a consciência para novos horizontes, muitas vezes regidos pela bioquímica corporal, pelo hábito familiar, pelos exemplos que adotamos de comportamento e moral.

   O corpo muda, gostos e ideologias se firmam, opiniões e comportamentos não se congregam com aquele mundo infantil deixado para trás. Uma necessidade incontrolável de mudar aquilo que se julga errado, de colocar a "mão na massa", de fazer a diferença em algo, de se isolar do mundo, de escutar som alto, de experimentar tudo o que é novo e proibido, de contradizer limites. Enfim, ser adolescente.

 
    Aí os anos trazem mais mudanças: vida adulta exige maturidade. Insistir na permanência pueril é certeza de sofrimentos e frustrações.

    Crescer dói, mas é a única maneira de evoluirmos. Crescemos quando deixamos de atribuir importância maior a nossos desejos e dividimos nossas expectativas com o próximo, com o mundo.

   Crescemos quando deixamos de julgar nossa dor, maior e mais relevante que a do nosso vizinho, quando paramos com a auto compaixão e estendemos nossos olhos a tantas mazelas que nos cercam. Crescemos quando deixamos de ser sempre berlinda e nos tornamos plateia consciente.

   Crescemos quando adquirimos a paz de consciência, fazendo sempre o nosso melhor, deixando de dar valor ao julgamento nocivo que é feito por pessoas e sociedades superficiais ou fanáticas. Também crescemos quando identificamos Deus em sua completa feição, não apenas encerrado em templos ou imagens, mas ao redor de tudo aquilo que existe, no Cosmos, na natureza e simultaneamente dentro de nós mesmos.



   Assim, quando chegar a calmaria de nossas paixões com a pós maturidade, aquela que os anos trazem com seus fios brancos e marcas vincadas na pele, abraçamos a certeza de que o que foi amadurecido no passado, é grau de sabedoria e plenitude. Entender limitações sem se abater pela baixa auto estima, compreender o tempo na sua mais recôndita essência e valorizá-lo sem a ansiedade do futuro idealizado é a maior atitude de confiança no porvir.

   Tudo e todos são protagonistas deste processo tão magnífico da Criação. Podemos resistir, driblar, nos rebelar, nos deprimir, mas cedo ou tarde estas mudanças nos envolvem e tudo isso acontece de forma contínua e natural.

   Aceitar o presente da Vida ao acordarmos todos os dias vai além da "Busca"... aceitar a Vida é "se encontrar". 



   MUDAR implica resistência, medo, dúvida, insegurança, confronto com desejos e expectativas. A sensação de estabilidade e a rotina para muitos é fator de segurança e conforto. O Homem sempre buscou estabilizar-se emocional, profissional ou financeiramente, pois assim poderia tentar prever sua vida num futuro próximo.
   Acontece que nem sempre é possível garantir esta estabilidade e a flexibilidade comportamental neste ponto é de suma importância para confrontar o NOVO.




                                                                               Santo Agostinho





Para saber um pouco mais:


* Movimento das placas:

- Os limites das placas são os locais onde ocorrem as grandes alterações devido à alta atividade neste local. Podem ocorrer falhas, tremores, construção e destruição de novas placas e crosta.

   1). Limites transformantes ou conservativos:
   Movimento horizontal das placas. Ocorrem geralmente rachaduras que podem ser oceânicas ou continentais. Um bom exemplo é a Falha de San Andreas, na Califórnia (Afastamento entre as placas do Pacífico e a Norte-Amerricana), e estende-se por 1.300km cortando a Califórnia de norte a sul.







   2). Limites Divergentes:

   A força do magma comprime a área de ligação entre duas placas e empurra a crosta abrindo-a e formando uma nova área de litosfera (camada sólida mais externa do planeta). Ela pode ocorrer no oceano ou no continente.





   3). Limites Convergentes:

   Ocorre uma colisão frontal onde uma desliza para baixo do manto superior e outra sobrepõe-se a ela.
São chamados movimentos de subducção e causam abalos e consequências de acordo com a densidade de suas estruturas e localização.







* Futuro Supercontinente: AMÁSIA


Um artigo publicado recentemente pela revista "Nature" descreve que entre 50 e 250 milhões de anos no futuro, um novo supercontinente se formará unindo as Américas e a Ásia. Isso poderá ocorrer na região situada onde atualmente se encontra o "Anél de fogo do Pacífico" devido à alta concentração de vulcões nas áreas de encontro das placas.



https://www.nature.com/articles/nature10800




Referências:

https://www.nature.com/
https://www.bbc.com/portuguese/internacional/2016/05/160506_san_andres_terremoto_if
https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/amasia-futuro-supercontinente-da-terra-unira-americas-asia-3916742
Livro: Para entender a Terra - Press, Siever, Grontzinger e Jordan - Ed. Bookman
Livro: Decifrando a Terra - Teixeira, Fairchild, Toledoe Taioli - Ed.Cia Ed.Nacional - 2 ed

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